4 de dezembro de 2010

JOGOS MORTAIS 3D (2010)

Direção: Kevin Greutert
Elenco: Tobin Bell, Costas Mandylor, Betsy Russell, Sean Patrick Flanery

O possível último capítulo de Jogos Mortais arrecadou milhões de dólares nas bilheteiras norte-americanas e mundiais, no entanto, este seu sucesso comercial não é sustentado por nenhum critério qualitativo porque este Jogos Mortais 3D acaba por não ser muito diferente dos últimos Jogos Mortais. Em Jogos Mortais 3D ou Jogos Mortais VII somos novamente confrontados com uma narrativa extremamente fraca e confusa que é acompanhada por uma série de sequências sádicas e macabras que são visualmente exacerbadas pela tecnologia tridimensional que não foi convenientemente utilizada por Kevin Greutert, assim sendo, estamos novamente perante um filme medíocre que não presta uma devida homenagem a Jogos Mortais ou Jogos Mortais II, de 2004 e 2005, respectivamente, os dois melhores capítulos desta saga. A história volta a ser protagonizada pelo Detetive Hoffman (Costas Mandylor) que continua vivo e montando armadilhas aos que se atrevem cruzar o seu caminho – como, por exemplo, Jill Tuck (Betsy Russell) ou Matt Gibson (Chad Donella) - e àqueles que são ingratos ou egoístas para continuarem vivendo, dentro deste último grupo a sua nova vítima é Bobby Dagen (Sean Patrick Flannery), um falso sobrevivente das armadilhas de Jigsaw que acabou se tornando famoso à custa desta mentira e que agora vai ter que pagar por todos os seus pecados.


 O enredo de Jogos Mortais 3D utiliza a mesma fórmula cansativa e visivelmente esgotada dos capítulos anteriores e volta também a se assumir como um mero complemento às violentas sequências de sadismo e carnificina que se assumem claramente como o elemento central desta saga. A sua história acompanha essencialmente a luta pela sobrevivência de Bobby e a batalha intelectual do instável Hoffman contra a Polícia e Jill Tuck, no entanto, nenhuma destas duas vertentes é cativante ou interessante. A história ligada a Hoffman acaba sendo a mais interessante porque envolve algumas reviravoltas e alguns regressos inesperados que esclarecem algumas dúvidas e preenchem algumas lacunas mas que acabam por vulgarizar Jigsaw. As famosas sequências onde as personagens secundárias e algumas principais são vítimas de macabras armadilhas mortais continuam sangrentas e sádicas, no entanto, não há nenhuma armadilha mortal que nos consiga deixar profundamente chocados ou surpreendidos até porque os capítulos anteriores tinham armadilhas muito mais arrepiantes e com um final muito menos previsível. As três dimensões beneficiam claramente essas sequências, no entanto, esta tecnologia poderia ter rentabilizado muito mais esta obra caso Kevin Greutert a tivesse “tratado” um pouco melhor. O seu elenco tem uma performance global extremamente fraca e só Costas Mandylor é que ainda nos consegue oferecer uma performance minimamente positiva. A conclusão deste medíocre Jogos Mortais 3D também não é satisfatória porque não oferece um final conclusivo a Jogos Mortais, muito pelo contrário, deixa antever um Jogos Mortais VIII que poderá diminuir ainda mais a honra desta saga que desde Jogos Mortais III, de 2006, tem recebido capítulos de fraca qualidade mas extremamente rentáveis.

24 de novembro de 2010

RED - APOSENTADOS E PERIGOSOS (2010)


Direção: Robert Schwentke
Elenco: Bruce Willis, Mary-Louise Parker, John Malkovich, Helen Mirren, Morgan Freeman, Brian Cox, Karl Urban, Richard Dreyfuss
 
Basta olhar com atenção para o elenco, para facilmente percebermos que estamos perante  um filme especial. Nos dias atuais, é cada vez mais raro depararmo-nos com um filme que consegue juntar tantas estrelas (umas já consagradas – como Bruce Willis, Helen Mirren, John Malkovich e Morgan Freeman –, outras em claro estado de ascensão – como Mary-Louise Parker) dispostas a deixarem de lado os seus egos e simplesmente divertirem-se no set de filmagem. Red é um daqueles filmes que tem como objetivo máximo entreter o espectador e fazê-lo passar um bom momento no escuro da sala de cinema. Um pouco à imagem de filmes como Queime Depois de Ler dos irmãos Coen, Red é, acima de tudo, uma obra despretensiosa; uma película que, misturando comédia inteligente com ação desenfreada, consegue fazer uma sátira mordaz ao mundo da espionagem, sem, contudo, entrar por caminhos demasiados sérios e mensagens políticas demagógicas. 


Frank Moses (Willis) é um agente da CIA aposentado que tenta tirar algum tempo para si mesmo, relaxando na sua confortável moradia do subúrbio e procurando levar uma vida relativamente normal. Não tendo mais que passar os dias olhando por cima do ombro com receio do ataque de um agente inimigo, Frank despende suas energias cortejando uma jovem atendente de telefone da seguridade social, chamada Sarah Ross (Parker). Apesar de não se conhecerem, ambos percebem que existe certa química entre eles e decidem combinar um encontro para, finalmente, terem a oportunidade de levar a relação para um outro patamar. Poucos dias antes desse encontro, porém, Frank é atacado de surpresa por um bando de agentes encapuzados sem qualquer tipo de problema em puxar o gatilho das suas armas. Obrigado a reviver os fantasmas do passado, Frank faz uso de toda sua perícia para se livrar dos agentes e salvar a sua vida. Percebendo de que o seu passado ainda tem pontas soltas que lhe podem ser fatais, Frank embarca então numa última aventura que o levará a raptar a jovem Sarah Ross e a reunir a equipe de agentes da CIA que, em tempos, foi considerada uma das mais perigosas, letais e eficazes do serviço secreto norte-americano. Com a ajuda do lunático Marvin Boggs (hilariante John Malkovich), da mortífera Victoria (sempre elegante Helen Mirren) e do prestável Joe Matheson (Freeman), Frank inicia uma luta contra a própria CIA, com o intuito de desvendar uma conspiração governamental e de salvar a vida a todos os seus antigos companheiros. 


Aquilo que mais importa realçar deste Red é que se trata de uma obra extremamente divertida e descomplexada. Mais do que nos apresentar um argumento surpreendentemente original e sequências dramáticas dignas de um Oscar da Academia, Red esforça-se, acima de tudo, por oferecer ao espectador quase duas horas da mais ritmada e tresloucada das aventuras. Sejamos francos: não estamos perante o filme mais deslumbrante dos últimos anos. Porém, estamos certamente perante um dos mais divertidos. O admirável e sempre competente elenco de fabulosos atores vale pelo filme inteiro, facilmente fazendo esquecer toda e qualquer falha relativa a um argumento previsível. Dá enorme prazer ver atores como Helen Mirren e John Malkovich pegarem em metralhadoras e dispararem sem pudor, sempre com um sorriso irônico e bem-disposto no rosto. Tal como no já referido Queime Depois de Ler e, por exemplo, Onze Homens e um Segredo de Steven Soderbergh, o divertimento dos atores vem à tona de forma perfeitamente evidente. Nota-se claramente que todos estão ali com boa disposição e acaba, inevitavelmente, contagiando mesmo o mais carrancudo dos espectadores. 
Red deixa pormenores como o realismo da narrativa para trás, precisamente para ampliar o espírito de sátira e de entretenimento inerentes ao próprio filme. Robert Schwentke (diretor alemão, de filmes como o Plano de Vôo) dá espaço para que os seus atores assumam posição de destaque e, mesmo as sequências de mais fervorosa ação não escapam de tiradas cômicas que desenham um sorriso na cara dos espectadores. Algumas transições de planos estão também muito bem feitas, servindo-se de diversos postais de turismo para situar o espectador na atualidade da narrativa e contribuindo para o bom ritmo com que toda a aventura se desenrole. 


Red é um daqueles filmes raros que privilegiam o humor inteligente e o entretenimento bem fomentado, em detrimento de uma aura mórbida e pessimista que, de uma forma geral, mais agrada os críticos e os cinéfilos mais exigentes. A Sétima Arte está passando por uma fase em que os filmes mais adorados e premiados são sempre os dramalhões ou os filmes de mensagem política e social. Se antigamente, o que as pessoas gostavam de ver eram as cowboiadas em que o protagonista encerrava a película beijando a sua amada e sorrindo para a câmera, hoje em dia a crítica tende a valorizar mais os filmes que acabam com a morte trágica desse mesmo protagonista. O pessimismo parece estar na moda. E, pessoalmente, eu até sou adepto desse tom amargo, porque acho que está mais de acordo com a realidade em que vivemos. Porém, de vez em quando, é um prazer enorme assistir a uma obra que se afasta completamente desse gênero e que pretende apenas fazer com que o espectador ria e se divirta. Tais obras são como uma imensa lufada de ar fresco. E é isso mesmo que este Red é: um sopro de ar fresco que, apesar de não ficar para a história da Sétima Arte, consegue entreter o espectador e cumprir por inteiro os seus propósitos.