24 de novembro de 2010

RED - APOSENTADOS E PERIGOSOS (2010)


Direção: Robert Schwentke
Elenco: Bruce Willis, Mary-Louise Parker, John Malkovich, Helen Mirren, Morgan Freeman, Brian Cox, Karl Urban, Richard Dreyfuss
 
Basta olhar com atenção para o elenco, para facilmente percebermos que estamos perante  um filme especial. Nos dias atuais, é cada vez mais raro depararmo-nos com um filme que consegue juntar tantas estrelas (umas já consagradas – como Bruce Willis, Helen Mirren, John Malkovich e Morgan Freeman –, outras em claro estado de ascensão – como Mary-Louise Parker) dispostas a deixarem de lado os seus egos e simplesmente divertirem-se no set de filmagem. Red é um daqueles filmes que tem como objetivo máximo entreter o espectador e fazê-lo passar um bom momento no escuro da sala de cinema. Um pouco à imagem de filmes como Queime Depois de Ler dos irmãos Coen, Red é, acima de tudo, uma obra despretensiosa; uma película que, misturando comédia inteligente com ação desenfreada, consegue fazer uma sátira mordaz ao mundo da espionagem, sem, contudo, entrar por caminhos demasiados sérios e mensagens políticas demagógicas. 


Frank Moses (Willis) é um agente da CIA aposentado que tenta tirar algum tempo para si mesmo, relaxando na sua confortável moradia do subúrbio e procurando levar uma vida relativamente normal. Não tendo mais que passar os dias olhando por cima do ombro com receio do ataque de um agente inimigo, Frank despende suas energias cortejando uma jovem atendente de telefone da seguridade social, chamada Sarah Ross (Parker). Apesar de não se conhecerem, ambos percebem que existe certa química entre eles e decidem combinar um encontro para, finalmente, terem a oportunidade de levar a relação para um outro patamar. Poucos dias antes desse encontro, porém, Frank é atacado de surpresa por um bando de agentes encapuzados sem qualquer tipo de problema em puxar o gatilho das suas armas. Obrigado a reviver os fantasmas do passado, Frank faz uso de toda sua perícia para se livrar dos agentes e salvar a sua vida. Percebendo de que o seu passado ainda tem pontas soltas que lhe podem ser fatais, Frank embarca então numa última aventura que o levará a raptar a jovem Sarah Ross e a reunir a equipe de agentes da CIA que, em tempos, foi considerada uma das mais perigosas, letais e eficazes do serviço secreto norte-americano. Com a ajuda do lunático Marvin Boggs (hilariante John Malkovich), da mortífera Victoria (sempre elegante Helen Mirren) e do prestável Joe Matheson (Freeman), Frank inicia uma luta contra a própria CIA, com o intuito de desvendar uma conspiração governamental e de salvar a vida a todos os seus antigos companheiros. 


Aquilo que mais importa realçar deste Red é que se trata de uma obra extremamente divertida e descomplexada. Mais do que nos apresentar um argumento surpreendentemente original e sequências dramáticas dignas de um Oscar da Academia, Red esforça-se, acima de tudo, por oferecer ao espectador quase duas horas da mais ritmada e tresloucada das aventuras. Sejamos francos: não estamos perante o filme mais deslumbrante dos últimos anos. Porém, estamos certamente perante um dos mais divertidos. O admirável e sempre competente elenco de fabulosos atores vale pelo filme inteiro, facilmente fazendo esquecer toda e qualquer falha relativa a um argumento previsível. Dá enorme prazer ver atores como Helen Mirren e John Malkovich pegarem em metralhadoras e dispararem sem pudor, sempre com um sorriso irônico e bem-disposto no rosto. Tal como no já referido Queime Depois de Ler e, por exemplo, Onze Homens e um Segredo de Steven Soderbergh, o divertimento dos atores vem à tona de forma perfeitamente evidente. Nota-se claramente que todos estão ali com boa disposição e acaba, inevitavelmente, contagiando mesmo o mais carrancudo dos espectadores. 
Red deixa pormenores como o realismo da narrativa para trás, precisamente para ampliar o espírito de sátira e de entretenimento inerentes ao próprio filme. Robert Schwentke (diretor alemão, de filmes como o Plano de Vôo) dá espaço para que os seus atores assumam posição de destaque e, mesmo as sequências de mais fervorosa ação não escapam de tiradas cômicas que desenham um sorriso na cara dos espectadores. Algumas transições de planos estão também muito bem feitas, servindo-se de diversos postais de turismo para situar o espectador na atualidade da narrativa e contribuindo para o bom ritmo com que toda a aventura se desenrole. 


Red é um daqueles filmes raros que privilegiam o humor inteligente e o entretenimento bem fomentado, em detrimento de uma aura mórbida e pessimista que, de uma forma geral, mais agrada os críticos e os cinéfilos mais exigentes. A Sétima Arte está passando por uma fase em que os filmes mais adorados e premiados são sempre os dramalhões ou os filmes de mensagem política e social. Se antigamente, o que as pessoas gostavam de ver eram as cowboiadas em que o protagonista encerrava a película beijando a sua amada e sorrindo para a câmera, hoje em dia a crítica tende a valorizar mais os filmes que acabam com a morte trágica desse mesmo protagonista. O pessimismo parece estar na moda. E, pessoalmente, eu até sou adepto desse tom amargo, porque acho que está mais de acordo com a realidade em que vivemos. Porém, de vez em quando, é um prazer enorme assistir a uma obra que se afasta completamente desse gênero e que pretende apenas fazer com que o espectador ria e se divirta. Tais obras são como uma imensa lufada de ar fresco. E é isso mesmo que este Red é: um sopro de ar fresco que, apesar de não ficar para a história da Sétima Arte, consegue entreter o espectador e cumprir por inteiro os seus propósitos.