Direção: Martin Scorsese
Elenco: Leonardo DiCaprio, Mark Ruffalo, Ben Kingsley, Emily Mortimer
Os principais trabalhos de Martin Scorsese são simplesmente magníficos porque nos apresentam uma enorme variedade de elementos de qualidade que agradam à esmagadora maioria dos espectadores. Ilha do Medo consegue se introduzir na perfeição nesse magnífico conjunto de trabalhos porque também se assume como uma excelente produção que nos oferece uma cativante e imprevisível história que é protagonizada por um talentoso elenco e dirigida por um icônico cineasta que raramente nos desilude.
Teddy Daniels (Leonardo DiCaprio) e Chuck Aule (Mark Ruffalo) são enviados para o Hospital Psiquiátrico Ashecliffe na Ilha de Shutter, uma conhecida instituição psiquiátrica onde estão internados os mais perversos criminosos do país, com o intuito de investigar o misterioso desaparecimento de Rachel Solando, uma instável e perigosa assassina que conseguiu escapar desta instituição psiquiátrica sem deixar qualquer espécie de vestígio, exceção feita para uma pequena mensagem indecifrável. Os diversos funcionários do Hospital Psiquiátrico Ashecliffe não parecem empenhados em cooperar com a investigação e um dos principais entraves aos avanços da mesma é o Dr. Cawley (Ben Kingsley), um misterioso psiquiatra que é o principal responsável pela aplicação dos tratamentos psicológicos e psiquiátricos que se fazem na instituição. A investigação é ainda mais atrasada com a chegada de um furacão que acaba isolando os agentes da civilização, uma situação que os deixa rodeados por um ambiente psicótico e pacientes perigosos. À medida que enfrentam dúvidas e desvendam segredos, os agentes percebem que as suas vidas estão em risco e que podem não conseguir sair vivos desta ilha maldita.
O imaginativo argumento de Ilha do Medo é baseado na obra homônima de Dennis Lehane e consegue nos oferecer uma fantástica história que em nenhum momento se torna cansativa ou aborrecida, muito pelo contrário, mantém os espectadores concentrados e agarrados ao seu imprevisível desenvolvimento que nos apresenta inúmeras surpresas e reviravoltas extremamente penetrantes. O enfoque inicial da história é a exaustiva investigação policial que é conduzida pelos agentes federais sobre o desaparecimento da perigosa condenada e posteriormente sobre a continua sucessão de misteriosos acontecimentos na instituição psiquiátrica, no entanto, à medida que nos aproximamos da conclusão, a investigação é praticamente esquecida e a exploração da enigmática história individual do protagonista passa a ser o enfoque principal da narrativa que também explora as traumáticas conseqüências que as deturpações psicológicas têm no comportamento de um individuo.
O protagonista é assombrado por um passado traumático que o interliga com a instituição que investiga, assim se explicam as inúmeras hipóteses teóricas que nos apresenta e que nos deixam na dúvida sobre o que é verdade e o que é uma invenção, assim sendo, nunca temos certezas absolutas ou irrefutáveis sobre quem é o vilão ou quem é o herói da história porque o próprio personagem principal nos apresenta um extenso histórico de violência. Ao fantástico ambiente de suspeição e de incerteza que é levantado e continuado pelo argumento, ambiente esse que é constantemente alimentado por cativantes reviravoltas e criativas suposições, também se juntam as abordagens intelectuais sobre as conseqüências psicológicas que os traumas têm na estabilidade mental dos indivíduos, uma abordagem que é especialmente efetuada nos últimos momentos de Ilha do Medo. A dúvida e a paranóia dominam a história desta produção que nos oferece uma conclusão que é bastante lógica mas que certamente surpreenderá os espectadores.
O trabalho diretivo de Martin Scorsese é simplesmente fenomenal. O icônico cineasta exteriorizou na perfeição uma intrigante história sem nunca esquecer as vertentes técnicas, ou seja, Martin Scorsese explorou habilmente o argumento mas sempre se preocupou com os pormenores técnicos que acompanham essa exploração exaustiva da história, como por exemplo, as seqüências ilusórias do protagonista são extremamente significativas e os cenários obscuros e decadentes alimentam e acompanham a incerteza da narrativa e o espírito da instituição. O cineasta também demonstrou uma atenção especial com a capacidade intelectual do espectador ao não explicitar a história de uma forma concreta e conclusiva, obrigando o espectador a procurar as respostas por ele próprio. Os magníficos elementos fotográficos e as fantásticas sonoridades de Ilha do Medo também contribuíram para o excelente resultado final. O elenco é qualitativamente liderado pela excelente performance de Leonardo DiCaprio, que assume o protagonismo sem grandes problemas e oferece à sua complexa personagem todos os elementos que ela necessita para ser convincente. Mark Ruffalo e Ben Kingsley abrilhantam o elenco secundário com excelentes interpretações individuais mas é o último que arranca os maiores elogios porque tanto nos convence como vilão ou como herói.
O suspense que é criado e desenvolvido em Ilha do Medo não é passageiro e acompanha a história até ao seu último instante, uma característica que é digna das melhores produções do gênero porque é precisamente isso que se exige de um thriller. Martin Scorsese voltou a brilhar num gênero difícil e através de uma narrativa complicada. Ilha do Medo não é perfeito mas não destoará na espetacular filmografia de Martin Scorsese.
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