5 de janeiro de 2011

HARRY POTTER E AS RELÍQUIAS DA MORTE - PARTE I (2010)


Diretor: David Yates
Elenco: Daniel Radcliffe, Emma Watson, Rupert Grint, Ralph Fiennes, Helena Bonham Carter

Dez anos passaram desde que Harry Potter – o mais famoso aprendiz de feiticeiro da História do cinema e da literatura – aterrissou nas salas de cinema mundiais com toda a pompa e circunstância. Foi no agora longínquo ano de 2001 que a Warner Bros. e o realizador Chris Columbus deram vida ao corajoso e persistente “rapaz que sobreviveu”, transportando-o das páginas dos livros para as mágicas e dinâmicas telas de cinema. Os então desconhecidos Daniel Radcliffe, Emma Watson e Rupert Grint foram os atores escolhidos para encarnar o fabuloso trio de personagens que marcou uma geração. Genuínos, esforçados e empáticos, os jovens atores encaixaram-se como uma luva nas especificidades dos respectivos papéis e assim nasceu uma epopéia cinematográfica que se afirmou como uma das mais rentáveis e bem-sucedidas sagas da Sétima Arte contemporânea.

Condizentes com a idade precoce dos seus protagonistas, os primeiros filmes da saga eram mais joviais, alegres e encantadores. Algo que fez com que muitos rotulassem as aventuras de Harry Potter como simples histórias para crianças. Porém, quem já tinha lido os livros mais recentes sabia que isso não correspondia à verdade. Pois assim como os protagonistas foram crescendo, também as suas aventuras foram se tornando mais maduras, negras e mesmo assustadoras. J. K. Rowling teve o dom de nunca deixar que suas narrativas caíssem num poço de banalidade sem fim à vista. Razão pela qual a saga sempre manteve um impressionante número de fãs de idade adulta, reservando-lhe um lugar muito especial na cultura pop mundial. 


E eis que, após quase uma década de espantosas aventuras pelo maravilhoso mundo de Hogwarts, a saga se aproxima do estrondoso (e muitíssimo aguardado) final. Quem sempre acompanhou as peripécias do introvertido mago da cicatriz em forma de trovão, viu-o crescer e tornar-se homem. E agora, no apogeu das suas fantásticas (e tenebrosas) aventuras, temos também a oportunidade de testemunhar a forma como ele enfrenta os seus mais negros pesadelos. Harry Potter e as Relíquias da Morte  -  Parte I marca o adeus definitivo aos tempos de criança do “rapaz que sobreviveu”. Ele cresceu e todo o mundo que o rodeia não é mais encantador e verdejante. Dito de uma forma muito simples: o público mais jovem deliciar-se-á com os efeitos visuais e as sequências mais movimentadas; mas é o público mais maduro quem apreciará o tom dramático e introspectivo que paira sobre toda a película.

Esta primeira parte do 7º livro da saga poderá desiludir alguns fãs que não tenham tido a oportunidade de ler o livro. Pela primeira vez, em todo o filme de Harry Potter, não existe um único plano da escola de Hogwarts. Não há mais aulas de poções, intervalos divertidos com os colegas de Grifinória ou diálogos com fantasmas amigáveis. Desta vez, há apenas espaço para uma infernal corrida contra o tempo, onde muitos morrerão, confrontos surgirão, e lágrimas jorrarão ao sabor de amizades postas à prova máxima. Precisamente, por se tratar de um filme totalmente diferente dos anteriores, muitos irão achá-lo estranho e quase sentir que não estão vendo um filme de Harry Potter. Mas o 7º tomo da saga é assim mesmo. E é por essa exata razão que ele é tão especial.

 
Mas antes de tudo, ocupemo-nos da narrativa. Lord Voldemort (frio e arrepiante Ralph Fiennes que, infelizmente, usufrui de pouco minutos na tela) está mais poderoso e ameaçador do que nunca. Os seus fiéis Comensais da Morte (uma espécie de impiedosa milícia das trevas) controlam o Ministério da Magia e aterrorizam todos os feiticeiros que não provenham de uma linhagem de puro-sangue. Um dos seus mais conhecidos aliados – Severus Snape (Alan Rickman) – usurpa também o posto de Diretor de Hogwarts, impingindo à escola um modo de operar em tudo semelhante a um duro e cruel regime fascista. Possuindo o controle total do mundo mágico, Voldemort transforma Harry Potter e seus aliados em inimigos públicos número um, fazendo-lhes viver num mundo onde não existem lugares seguros. E é neste mundo profundamente adverso que Harry (Daniel Radcliffe), Ron (Rupert Grint) e Hermione (brilhante e deveras promissora Emma Watson, claramente a mais talentosa dos três protagonistas), se lançam em busca dos Horcruxes – os objetos para os quais Voldemort transferiu partes da sua alma e que, como tal, fazem dele um ser imortal. É no decurso desta desesperada demanda que os três adolescentes ouvem falar nos Talismãs da Morte, dos quais a Varinha de Sabugueiro (a varinha mágica mais poderosa de todos os tempos) assume posição de destaque. E quando Harry compreende que Voldemort persegue essa mesma varinha como se a sua vida dependesse disso, ele chega à conclusão de que os Horcruxes têm de ser destruídos o mais depressa possível. Pois com a Varinha das Varinhas nas mãos, o Senhor das Trevas tornar-se-ia ainda mais poderoso e possivelmente indestrutível.

Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte I é um road-movie por excelência. O corajoso trio de protagonistas nunca pára quieto no mesmo local, havendo neste filme uma variedade de sets de filmagem muito superior à dos filmes precedentes. Como já foi dito, graças a isto (e a muito mais), alguns espectadores menos informados poderão se sentir um pouco perdidos. Hogwarts desaparece por completo do mapa, ficando reduzida a esporádicas menções via rádio ou jornal. Mais do que em qualquer outro filme da saga, Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte I é carregado aos ombros quase exclusivamente pelo trio de jovens protagonistas. A película abre com uma das cenas mais deliciosas e sentimentais de toda a saga; pouco depois disso, Harry, Ron e Hermione partem sozinhos para viajar por um mundo desencantado; e a partir daí, os três personagens quase não voltam a abandonar a luz das câmeras. David Yates dá-nos então a oportunidade de observar a integração das três personagens num contexto isolado e adverso. E talvez esteja aqui o ponto mais interessante da película. Pois um pouco à imagem do que acontecia na trilogia de O Senhor dos Anéis, Harry, Ron e Hermione são levados ao máximo da sua força interior e só a mais robusta das amizades os poderá salvar de tão árdua provação. 


Não há dúvida de que Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte I é um filme bem interessante. Porém, é inevitável sairmos da sala com a sensação de que falta alguma coisa a esta obra. E de forma extremamente simples e óbvia, eu diria que o que lhe falta é nada mais, nada menos, que a 2ª parte da história. Esta divisão da história em duas partes tem os seus prós e contras. Se por um lado, tal divisão permitiu que a narrativa se desenrolasse com o passo acertado e que as personagens tivessem espaço para aprofundarem as suas emoções… por outro lado, o filme fica amputado da clássica estrutura de princípio, meio e fim, terminando de forma insípida e sendo incapaz de sobreviver por conta própria. Para se afirmar como um bom filme, esta primeira parte precisa desesperadamente da metade que está faltando. E para que a saga de Harry Potter termine da forma que todos desejamos, a segunda parte terá de se apresentar em muito boa forma.

Resumindo e concluindo, Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte I acaba cumprindo aquilo que prometia… mas também acaba desiludindo um pouco. Fiquei com a nítida sensação de que esta primeira parte foi nada mais do que um trampolim para algo muito mais espetacular. Como a personagem de Gandalf disse no terceiro filme de O Senhor dos Anéis, o tabuleiro está montado, as peças estão em movimento e o fim está próximo. A sequência final do filme deixa-nos com água na boca para o que está para vir e, desde que a esta maturidade emocional se adicione um clímax de batalha bem mais épico e ousado, Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte II tem tudo para ser um dos maiores eventos cinematográficos do próximo ano. Veremos no dia 15 de Julho de 2011.

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