Direção: Gus Van Sant
Elenco: Henry Hopper, Mia Wasikowska, Ryo Kase, Schuyler Fisk, Lusia Strus
Van Sant é um cineasta complicado de digerir. Não pelas temáticas, mas pelo tratamento desigual que dá às suas obras, constantemente no equilíbrio entre um roteiro mais elaborado – como em Gênio Indomável (1997), Encontrando Forrester (2000) e Milk (2008) – e o trabalho mais artístico para concorrer em Festivais – como em Paranoid Park (2007) e Paris, Te Amo (2006). De vez em quando ele mistura bem as duas vertentes, como em Elefante (2003), onde deu uma visão independente e arrojada a um tema profundamente atual, na época, e de debate no mundo (o massacre de estudantes em escolas dos Estados Unidos), conseguindo provavelmente um dos seus melhores trabalhos.
Curiosamente, Inquietos tenta misturar um pouco dos dois campos e, apesar de conseguir bons momentos, é um filme demasiadamente desconexo e desarticulado na ligação entre o humor atrevido (geralmente negro), o romance ingênuo e o drama melancólico e profundo.
O filme conta a história de Annabel Cotton (Mia), uma bela e adorável doente de câncer terminal com um profundo amor pela vida e pela natureza, e Enoch Brae (Hopper), um jovem que desistiu de viver, depois da morte dos pais num acidente de carro. Quando estes dois estranhos se encontram por acaso num funeral, percebem-se do muito que as suas experiências do mundo têm em comum. Para Enoch, essas incluem o seu melhor amigo Hiroshi, na verdade o fantasma de um piloto Kamikaze. Para Annabel, uma admiração por Charles Darwin e um interesse na forma de vida dos outros seres. Ao saber da morte eminente de Annabel, Enoch oferece-se para ajudá-la a enfrentar os últimos dias com um abandono irreverente, provocando o destino, a tradição e a própria morte.
Este Inquietos sofre acima de tudo de continuidade emocional exagerada, propositado, pois as personagens assim vivem no seu dia-a-dia – cada um com a sua profunda depressão, muitas vezes travestida em humor escapista e surreal. E sendo a morte, e o pânico que as personagens têm dela (camuflado por sentimentos reprimidos e traumas), uma das temáticas da obra, acaba sendo curioso que o próprio filme fuja das questões primordiais (a simplificação final não ajuda). Ao fazer isto, a obra torna-se inconsequente, ainda que magistralmente doce e apaixonante se isolarmos o romance implícito. Isto é o Van Sant indeciso naquilo que quer mostrar (especialmente a confusão de sentimentos).
De qualquer maneira, destaque para o bom começo da narrativa e para o trabalho dos atores, ainda que muitos dos problemas que surgem ao decorrer do filme, e adormecem a obra, acabam sendo responsabilidade das suas personagens.
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