Direção: Tomas Alfredson
Elenco: Gary Oldman, Colin Firth, Tom Hardy, John Hurt
Tomas Alfredson surgiu no mundo do cinema com o magnífico Deixe Ela Entrar (2008), o filme sueco que se revelou ser muito mais do que uma mera história de vampiros à moda de Crepúsculo (2008). Esse filme apenas escancarou-lhe as portas de Hollywood por completo, ou pelo menos lhe permitiu comprar bilhete para outros vôos bem mais elevados, já que este O Espião Que Sabia Demais não é exatamente um produto da velha Hollywood. Acima de tudo, Alfredson teve aqui a primeira oportunidade de trabalhar com um elenco de atores do mais alto gabarito, a primeira grande oportunidade de fazer cinema da mais elevada qualidade. E os resultados estão à vista de todos. Pois apesar de não ser um filme extremamente entusiasmante e de cortar a respiração, O Espião Que Sabia Demais é a perfeita encarnação do cinema sutil e cheio de classe, deliciando aqueles que acham que cinema minimalista é a melhor coisa do mundo. Se estiverem à espera de ver uma trama de espionagem cheia de adrenalina e perseguições entre agentes secretos, decerto sairão tremendamente desiludidos da sala de cinema. Mas se estiverem dispostos a assistir a um enredo soturno e inteligente à boa maneira de Poirot e dos antigos Sherlock Holmes, então esta obra poderá deixar-vos em estado de êxtase.
Quando uma missão secreta em Budapeste deixa o agente Jim Prideaux (Mark Strong) às portas da morte, o MI6 entra em fervor. Cabeças têm de rolar para que as relações diplomáticas entre o Reino Unido e a União Soviética não sofram um colapso instantâneo. Alguém tem de pagar a fatura para amenizar os estragos causados. E quem acaba pagando são dois dos agentes mais notáveis da instituição: Control (John Hurt) – o cérebro por detrás da operação – e George Smiley (o fabuloso Gary Oldman) – um agente experiente que acaba acatando a punição sem nada protestar.
Forçado a se aposentar mais cedo do que esperava, Smiley mergulha num estado de melancolia perturbador, caminhando silenciosamente pelas ruas, nadando rotineiramente em uma piscina e vendo televisão no seu sofá de eterna solidão. Porém, o ministro do tesouro britânico Oliver Lacon (Simon McBurney) chama-o de volta para investigar uma dor de cabeça bem antiga. Control havia deixado a terrível ideia no ar, e Lacon parece concordar com ela, de que haveria uma toupeira (um agente duplo) no seio do MI6, que há muito enviava informações sigilosas a membros do governo e do exército soviéticos. Percy Alleline (Toby Jones), Toby Esterhase (David Dencik), Roy Bland (Ciarán Hinds) e Bill Haydon (Colin Firth) são os principais suspeitos. E Smiley terá de descobrir qual deles é o grande traidor, antes que seja tarde demais para repor a ordem naquela que foi já uma instituição de grande prestígio da coroa britânica.
Baseado na obra de John le Carré, O Espião Que Sabia Demais foi feito pensando nos fãs do cinema noir e do classicismo artístico. Por vezes quase parece que estamos vendo um filme da era dourada de Hollywood, tal é a sua essência clássica. Tal como havia feito em Deixe Ela Entrar, Alfredson volta a filmar com uma tranquilidade quase irritante, não hesitando em brindar o espectador com sequências que levam o seu tempo (talvez um tempo exagerado) a progredir no espaço narrativo, e momentos de extrema soturnidade. Uma coisa é certa: este não é o filme ideal para ver na última sessão da noite. Pode se dizer que este é um filme pesado, tal é a melancolia que o persegue e a lentidão com que as cenas se sobrepõem. Uns trinta minutos a menos não lhe fariam nada mal. E um recurso menos abusivo aos flashbacks ajudaria a imprimir outro ritmo a uma obra excessivamente marcada pelo negrume e pelo marasmo. As quebras de ritmo em dois ou três momentos da película fazem-se notar com excessiva clareza, levando o espectador menos tolerante ao desespero. Mas esse modo taciturno de contar histórias apenas favorece a personagem principal, chegando mesmo a dar a sensação de estarmos assistindo a tudo como se estivéssemos dentro da cabeça do próprio Smiley.
O elenco está todo de parabéns, mas é Gary Oldman que se destaca com a encarnação de um agente tão astuto quanto desencantado. Oldman pode assim receber o primeiro Oscar da sua carreira, afirmando-se como um concorrente de peso na cerimônia deste ano dos prêmios cinematográficos mais cobiçados do planeta. Outro ponto forte da película encontra-se na brilhante direção de fotografia de Hoyte Van Hoytema. Em suma, O Espião Que Sabia Demais não será o grande filme do ano. Mas será, certamente, um dos mais memoráveis, seja pela estilização da sua trama, ou pelo desempenho de um elenco competentíssimo.
TRAILER:
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